domingo, 29 de maio de 2016

Serra da Rocinha - 110 km de chão!

   Um desejo, um planejamento, uma aventura: Serra da Rocinha - RS/SC. Foram 630 km de estrada em 14h, saída as 9h de Florianópolis com chegada as 23h! Estrada para poucos.
    
Foto: http://www.irbianchi.com/2016/01/serra-da-rocinha.html

Visão aérea da Serra da Rocinha pelo Google.

Trajeto: Florianópolis - Serra da Rocinha - Florianópolis.

   Depois de uma semana conturbada, a viagem foi um bálsamo. Quarta feira havia um conserto elétrico no prédio que moro, sem luz desde as 9h da manhã, as 15h fumaça na cobertura do quinto andar, fogo, bombeiros, uma confusão para arrumar água. Assim, nesse cenário, com 2 caminhões de bombeiro mais uma ambulância na frente do prédio, chega o meu amigo Fábio, vindo de Porto Alegre. A luz foi reestabelecida as 19h horas, sem água no prédio, os bombeiros usaram toda. E dado um engano na hora de fechar uma válvula d'água, amanhecemos quinta sem água, tomei banho de canequinha, sem falar que havia pisado numa bosta de cachorro e sujado a casa, (na correria esqueci de tirar o calçado ao chegar a noite), que dia!
   Bueno, passado a confusão e o estresse e acreditando que não era um prelúdio de coisas ruins por vir, zarpamos as 9h da quinta, dia 26 de maio (feriado).
   No início da viagem encontramos várias acidentes, o pessoal bebe na Festa do Pinhão de Lages e pega a estrada. Como Urubici é a meca dos motociclistas da região, quando é feriado ou final de semana, para lá eles enxameiam como mosca no mel. Logo no começo da estrada que leva a Urubici (SC 416) paramos para ajudar em um acidente de moto, o motorista se perdeu numa curva, o acidente foi leve, apenas a moça da carona machucou a mão (estava sem luva de proteção). O acidente foi logo após uma curva, ajudei a sinalizar a situação para os carros que vinham, uns galhos de vassourinha na estrada, antes da curva.

Tá aí o Fábio, no início da SC 416, poucos metros antes de pararmos para sinalizar um acidente de moto.


   O Fábio e eu em frente da Pousada das Flores.

  Chegamos em Urubici perto do meio dia e paramos na Pousada das Flores para falar com o Marcos, um expert na região e motociclista de trilha, pegamos umas dicas do caminho a seguir e finalmente cheguei a conclusão que só deveria diminuir a pressão dos pneus na estrada de chão, sem mexer na regulagem das suspensões (deu certo). Então, essa é a dica, quer saber das coisas, fale com o Marcos, gente finíssima, a ultima vez que falei com ele disse que ficaria 2 anos sem andar de moto, pois estava  chegando um novo rebento na família. Motociclista de paixão, já esta pegando a estrada, não conseguiu ficar longe das duas rodas, a mulher é que não deve ter gostado. Além de pousada, ponto de informação, você ainda encontra ali restaurante e venda de acessórios para motociclista, entre outras coisas.


Urubici Park Hotel, na frente da pousada.

   Paramos logo depois para umas fotos, uma maravilha a cascata do Avencal.

A cascata Avencal ao fundo, a visitação é interessante.


Fotinho da parada, se prestar atenção tem um caboclo se aliviando atrás do poste (eu).

   
   Seguimos viagem em direção a Bom Jardim da Serra, onde chegamos próximo das 15h para abastecer e ajustar a pressão dos pneus, ali começa a estrada de chão que leva a São José dos Ausentes -  RS.

Início da estrada que leva a São José dos Ausentes.

  Os primeiros 8 km da estrada estão asfaltados, depois só estrada de chão bem empedrada e com alguns buracos, até a divisa de SC com o RS mantivemos, em alguns trechos, uma média de  50km/h, as vezes 60km/h, muitas pedras, um desafio para a V-Sttrom. O Fábio liderou o caminho, acostumado a andar em estrada de chão,  sua XT660 é feita para o OFF (perfeita), a V-Strom tenta. Depois da divisa com SC a estrada "melhorou" e conseguimos manter em vários trechos 90km/h. Dessa vez a Betsy (minha moto) foi impecável. Alguns trechos com pedrinhas pequenas e perigosas nas curvas, cheguei a dar umas rabiadas, o Fábio viu a coisa feia em um trecho de barro. Levamos 1h30 até São José dos Ausentes, chegamos as 16h30, dos 84km encontramos umas 5 vacas no meio do caminho e muita pedreira e buracos, passamos uma comitiva de jipes com material de camping, algumas motos big trail, algumas Tenérés e surpreendentemente duas motos de rua, com seus habilidosos pilotos para encarar tal estrada. Carros pequenos só de quem realmente sabia o que fazia.




   Tiramos alguns fotos no caminho, mas as paradas foram só três, acima, logo no início da estrada, abaixo mais a frente, a XT660 mostrou sua superioridade no OFF.


O Fábio encarou as pedras, eu achei que a altura e o peso da minha moto, associado a minhas habilidades, não dariam conta do recado.




Ta aí, a Betsy encarou o desafio mais moderado, mas não fugiu da peleia.


Linda! Vai aonde o dono quer, ou pensa conseguir pilotar.

  Chegamos em São José dos Ausentes (http://visiteausentes.com.br) já no prenúncio da noite, abastecemos e trocamos umas idéias com o pessoal, chegou um cara de Porto com uma Super Teneré 750, impecável, papo mais ou menos, a simpatia da capital não é a mesma do interior. Fui abordado por um senhor de 84 anos para me vender um CD do Porca Véia e me contar que o nome da cidade se deve a um pessoal que morava por lá e se foi embora, daí o nome ausentes (meia verdade, ver site supracitado).
    As paisagens são lindas, o cheiro da terra, do mato, lembrou minha infância, saudade da natureza. Paramos mais uma vez para umas fotos no vale das trutas, recomendado pelo Zappa, mas não tivemos tempo de explorar.

Sítio Vale das Trutas, vista da estrada.

   De São José dos Ausentes até Timbé do Sul - SC são 36 km, os poucos inicias de asfalto. O inicio da estrada de chão é realmente ruim e depois a estrada só piora, não consegui acompanhar o Fábio, ele teve que reduzir a velocidade, quando chegamos no começo da descida da Serra (15km a frente de São José dos Ausentes) já estava escurecendo, 17h30, e a serração tomou conta, nem liguei a câmera para a filmagem. Descemos a serra no escuro, notando parcamente os abismos da estrada, levamos aproximadamente 40min para percorrer 15km! Imagina uma estrada ruim, empedrada,  com pedra, mas muita pedra, (Drummond deve ter percorrido aquela estrada) e em várias curvas, pedras pequenas e arredondadas soltas. Muito cuidado e freio motor numa descida no escuro.



Aqui até parece claro, mas foi o ISO máximo que o Fábio deu na câmera fotográfica.





















                     Aqui a única parada na descida, o escuro agora parece com o real do momento.

  Na descida encontramos um carro quebrado, era a suspensão, e a toyota (das antiga) que vinhamos ultrapassando e que nos ultrapassava quando parávamos, estava ajudando. Vimos vários carros andando na estrada, a maioria eram de caminhonetes grandes. Quando paramos para a foto acima, analisamos o comportamento de um Blazer fazendo a curva: __devagar, será que iria passar? Foi, foi, parecia que tinha tração nas 4. Daí vem um Uno canela seca (vulgo Pé de Boi) e passou num tirão! O que a habilidade do piloto pode fazer! Tem coisas que não tem preço, para as outras tem Master Card ... kkkkk. 
  A descida parecia que não tinha fim, o cuidado para não cair nas pedras soltas e desviar de buracos e pedras grandes era constante. Eu ficava escutando o barulho das pedras que as rodas atiravam para os lados. O maior medo era furar um pneu, os meus sem câmera; foi o que me alertou o Zappa e o Marcos. No final da descida começaram a aparecer algumas casas, num breu total, umas abandonadas as outras aparentemente não, só perto de Timbé do Sul pareceu ter viva alma.
   Paramos para descansar no Posto Laguna, o do Camarão, parada certa para a maioria dos motociclista de viagem. Isso já passava das 20h. Chegamos em Florianópolis as 23h, eu vinha na frente iluminando o caminho, pois a Betsy possui um bom par de olhos.

 O desfecho e o aprendizado

   Viagem cansativa, mas muito prazerosa, excelente, repetiria sempre que possível, as paisagens são muito bonitas, o campo, a natureza, o desafio de dirigir, tudo foi muito bacana. O bom seria fazer a descida da Serra perto do meio dia, com bom sol, para poder parar no mirante, e apreciar a vista. Dormir em Urubici  e viajar para São José dos Ausentes seria o ideal. Mas o tempo sempre é curto para aventureiros de final de semana como eu e o Fábio. (Aqui vai a correção do Zappa e do Robinson: __ Deixa de preguiça gaudério, acorda mais cedo, saindo as 6h não precisa de hotel.)
   Já no sábado paguei o pedágio da viagem, levei a mulher e os filhos para algumas comprinhas. É nessas horas que entra o Master Card ... kkkk. Mesmo assim, ainda anda ela, meio de beiço virado (são as mulheres).
   Meu amigo Fábio resolveu retornar para o seu rancho lá para os lados de Santo Ângelo-RS (720km) no sábado (sexta demos umas voltas aqui por Floripa). Saiu aqui de casa pouco depois das 8h da manhã e não tardou para me ligar, estava quebrado a uns 3km de Águas Mornas, a corrente da moto arrebentou! 
  Foram pelo menos 3 sortes: a primeira, não quebrou no meio do nada, na viagem pelas estradas de chão, onde a moto foi bastante exigida; a segunda, quebrou perto do socorro e em horário ainda adequado; e a terceira e mais importante, não sofreu um acidente grave, pois a roda travou a mais de 80km/h em uma ultrapassagem. Segundo o Fábio, a roda traseira quicou e arrastou por aproximadamente 40m, com ele na contra-mão em uma subida quando realizava uma ultrapassagem, não veio carro em sentido contrário. Disse que lutou para não cair. Imagina o perigo, a corrente arrebentou e se enrolou na roda traseira, a travando. Ainda o sortudo, parou perto de um rapaz que roçava o mato do acostamento e lhe emprestou o celular para me ligar, o seu estava sem sinal. Consegui até retornar a ligação. Consegui que o Gilmar Motos (Santo Amaro da Imperatriz o buscasse na BR).  Segundo o Fábio, algumas big trail passaram por ele, até cumprimentaram, mas socorro nenhum.
  Resumo do conserto, trocada a relação (aço 1045) e um rolamento da roda traseira, ouve até a suspeita que a caixa tivesse quebrado (fato segundo contam pode acontecer na XT660). A operação na XT foi até o meio dia, e o sortudo ainda encontrou todas as peças que precisava na Gilmar Motos.


Seu Gilmar e o simpático mecânico (no fundo os nossos capacetes).

   Assim que consegui socorro para buscar o Fábio e sua moto, peguei a Betsy e corri para ajudar o amigo. 
  O seu Gilmar tem 40 anos de experiência e fomos muito bem atendidos, ficamos sabendo da perda trágica do seu filho de 25 anos em uma acidente de moto a 3 meses ... ficamos emocionados. O irmão do seu Gilmar também apareceu e também trabalha com motos, só que com vendas, contou que o rapaz gostava de velocidade e se acidentou em um esportiva a mais de 200km/h.
 É muito triste sentir o luto de alguém, cujo filho esteve lá na oficina desde os 10 anos de idade ajudando e que agora o pai precisou contratar alguém para substitui-lo. A mãe também estava lá e da mesma forma, trabalhando.
 O irmão do seu Gilmar, ainda nos relata mais duas mortes com moto. Tempo para parar e pensar, andar de moto é perigoso, andamos com prudência, mas muitas vezes nos excedemos, excesso de velocidade e motocicletas não combinam no trânsito. Muitas coisas tem conserto, menos a morte.
 Assim, vai o recado: 
  __ Sempre que tiver que colocar peças na sua moto, procure pelo melhor, não esqueça as revisões e o que manda o manual. O Fábio pagou o preço por acreditar no que lhe falou o antigo proprietário da XT.
  __ Ande sempre com prudência e com equipamentos de segurança (ainda estou devendo a calça certa).
  O bom das viagens são as pessoas que se conhece, a paisagem, o prazer de dirigir e o aprendizado que se ganha. Oh Brasilzão mais lindo, tchê!

Obs.: já estou quase craque em serras, só faltam mais 97 para eu receber o diploma.



8 comentários:

  1. hahahaha!!! Mas oigalê-tchê!! Pau na máquina, Fagundes!!!

    "Drummond deve ter percorrido aquela estrada" !! hahaha muito bom!!

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  2. Grande gaúcho véio:

    Parabéns. Queria estar nesta aventura contigo. Magnífico...
    Foi perfeito. Só faria uma correção: uma aventura desta tem que sair de casa às 6h da matina e não às 9h.
    Não precisam dormir numa cidade mais próxima num dia antes, basta sair bem cedo.
    Boas fotos e boa descrição da aventura. Comece a arquivar os relatos e fotos para um futuro livro, ok?!

    Faltam duas serras de SC para completares a relação de serras no meu Estado e seu por adoção: Serra da Moema e Serra entre Taió e Santa Cecília.
    Eu já fiz a primeira. A segunda, eu tentei sozinho. Fui até metade e tive que voltar. Então vi que não seria tarefa prá se fazer "alone" e deixei em banho maria. Quem sabe, agora.
    Maioria ninguém conhece. Ficam no tradicional Rio do Rastro e Corvo Branco. Apenas seguem a boiada, típico do ser humano de senso comum.
    Como estamos fora da curva da mesmice, gostaria de encarar estas duas pedreiras contigo. Já mostrastes que é valente e destemido.
    Muito gaúcho diz que é, mas, são poucos que provam.

    Abraço do Zappa.

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  3. Quando as quatro dimensões se encontrarem, espaço (3) e tempo, lá estaremos, para riscar as tramas quânticas do universo.

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  4. Buenas!
    Belas fotos e relato divertido de ler. Dia desses vamos fazer um tiro curto, quem sabe tomo gosto e encaro um pouco de poeira também! Abraço, Petry

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  5. Boa narrativa amigo véio...rsrsrs A XTesuda está na oficina recebendo um up grade para a próxima aventura. Abraço.

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  6. A próxima que planejarem me convidem. Um abraço.

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  7. Gostei muito do seu blog. Parabéns!!!
    Desci a Serra da Rocinha no último domingo, dia 09/10. Realmente é indescritível. Imagino que descer à noite deve ser muito mais radical, hehehe!!!!
    Também escrevo um blog contando das minhas viagens de moto, chamado Rotas de Moto (www.rotasdemoto.blogspot.com.br), para o qual te convido a dar uma olhada.
    Grande abraço.

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  8. Valeu Marcos! Parabéns pelo blog, tem dicas interessantes de novos caminhos. Uma hora dessas nos encontramos pelas estradas da vida.
    Um quebra costela do tamanho de SC (vulgo abraço).

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